Textos

Oração a São Genésio (Padroeiro do Teatro)

"Querido São Genésio interceda por seus colegas atores diante de Deus, 
para interpretarmos nossos papéis com perfeição 
e assim ajudarmos aos que nos assistem
a melhor compreender seus próprios papéis na vida." 
                                                                                         Amém.



Eu seguro a sua mão na minha, para que juntos possamos fazer, aquilo que eu não posso fazer sozinho!!!
 Utopia


Deficiências por Mário Quintana

 "Deficiente" é aquele que não consegue modificar a sua vida,aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê o seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria e só têm olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão, pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

"Miseráveis" são todos os que não conseguem falar com Deus.
A amizade é um amor que nunca morre.


Reflexões sobre a Arte Cênica – Plínio Marcos
“Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se pode discutir até as últimas conseqüências os problemas dos homens.
 A arte é uma magia. A gente aprende, mas ninguém ensina.
 A técnica é uma coisa mecânica. Disso ninguém duvida. Mas o artista, por  mais sensível que seja, não pode dispensá-la. Precisa apurar a técnica com  muito treino, até incorporá-la totalmente, até poder usá-la de forma que  ninguém perceba que ele tem técnica. Por isso, tem que usar a técnica sem  pensar nela, sem senti-la. Aí então o artista pode se valer da técnica para  extravasar seus sentimentos. No sentido de aprender a técnica, a escola pode  ser útil.
 Existem dezenas de cursos de arte dramática na cidade. Existem milhares de  aprendizes de ator nesses cursos. Porém só um número reduzido deles assiste  aos espetáculos em cartaz. Estes estudantes querem ser artistas, mas não  amam a arte. Alegam dificuldades financeiras para não verem as peças. 
Mentira. Não têm amor ao teatro, por isso nem pensam em sacrificar duas  cervejas por um bom espetáculo. O pior de tudo é que seus professores nem  sugerem aos alunos que eles devam ver os grandes atores em cena.
 Um diretor não pode dar nada ao ator, pois não há o que dar. Um diretor  pode instigar um ator a procurar dentro de si mesmo aquilo de que precisa. 
Por mais que o ator insista em pedir luz ao diretor, ele não pode ir além do  limite de incentivador. Mesmo que tente, o diretor não conseguirá dar.  Quanto mais tentar, mais diretor e ator vão se embrutecendo, se reduzindo o  diretor a um amestrador e o ator a um animal treinado. Nada que vem de fora  ajuda um ator a criar seu personagem. Ele tem que nascer de dentro do ator,  nutrido de coisas que estão dentro dele, ator. 
Um dia fui assistir a um ensaio teatral. Não gosto disso. Mas fui. Desse 
ensaio participavam um velho ator cheio de experiência, um jovem ator cheio  de entusiasmo e um diretor cheio de sucessos. O velho ator se valia de  truques, caretas, clichês. O jovem ator se esforçava, gritava, espumava,  inchava a veia do pescoço, suava. O diretor, de mau-humor, se limitava a  corrigir as marcas. Nenhum deles procurava nada. Por que ensaiavam? Não sei.
 Encontrei uma bela moça que se formou em arte dramática. Perguntei o que  pretendia fazer. Sem constrangimento, respondeu que tinha levado fotos para  uma agência de publicidade e aguardava alguma chamada para participar de  comerciais. Será que alguém precisa estudar para isso?
 Eu logo reconheço quem está no teatro obedecendo a um imperioso apelo  vocacional, ou quem está procurando espaço para passear sua beleza. Aos  primeiros, trato como irmãos. É gente que exerce seu ofício como sacerdócio. 
Merecem todo meu respeito, minha admiração, meu amor. Do segundo tipo de  gente, tenho pena. Jamais arte e poesia vão brotar do interior de pessoas  fracas.
 Onde existe o autoritarismo, o artista é sufocado. O autoritarismo gera o  obscurantismo, que favorece o copiador, o bobo da corte e os senhores da  estética decorativa.
O crítico de arte tem muita importância no sentido de ajudar o artista a 
conscientizar seu trabalho, a registrar se as propostas foram realizadas, as  metas atingidas. Esse é, no meu entender, o papel do crítico. Porém, quando  um indivíduo, só porque tem um espaço em jornal, tevê, rádio, se nomeia  crítico e passa a escarrar regra, dizendo sem cerimônia o que o artista  devia ou não fazer, ou então se limitando a dizer que uma coisa é bonita ou  feia, sem saber dar explicações, fundamentar suas opiniões, esse indivíduo  não passa de um cretino, daninho na medida da tiragem do jornal onde escreve ou da audiência do seu programa. Ele deve ser desprezado pelos artistas, já  que pelo público são completamente ignorados.

 O ator começa a ficar soberano do seu talento quando ganha consciência de  que entra no palco para servir e não para ser servido."


O Ator
Plínio Marcos, 1986

Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o bastante para fazê-lo indiferente às desgraças e alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave no qual ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu em sua vida.

Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade, e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que, por desencanto ou medo, se sujeita, e por aí inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.

Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos nos quais não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e os autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.

Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor, que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor. Eu amo os atores que sabem que a única recompensa que podem ter – não é o dinheiro, não são os aplausos - é a esperança de poder rir todos os risos e chorar todos os prantos. Eu amo os atores que sabem que no palco cada palavra e cada gesto são efêmeros e que nada registra nem documenta sua grandeza. Amo os atores e por eles amo o teatro e sei que é por eles que o teatro é eterno e que jamais será superado por qualquer arte que tenha que se valer da técnica mecânica.


Precisamos de Santos


Precisamos de Santos sem véu  ou batina.

Precisamos de Santos de calças jeans e tênis.

Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.

Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se "lascam" na faculdade.

Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade.

Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida em nosso tempo.

Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.

Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.

Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man.

Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refri ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.

Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte.
Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.

Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, m
as que não sejam mundanos".
(João Paulo II)



Há Momentos

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

Resíduo
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
vazio   de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.